29 de outubro de 2009

Astrónomos descobrem o mais distante objecto jamais visto

Notícia do DN online de hoje, com adendas minhas a itálico.

Um grupo internacional de astrofísicos detectou um corpo celeste que é o mais distante e antigo registado até agora, e confirmou que as estrelas já existiam quando o universo tinha apenas 600 milhões de anos. (…)

Os artigos analisam a explosão de raios gama registada a 23 de Abril, que foi a mais distante observada até agora e corresponde à explosão da estrela mais antiga e longínqua que se conhece, uma gigante que se apagou há 13 mil milhões de anos e cujo último esplendor chegou à Terra há apenas seis meses. [O ponto vermelho no centro da imagem é a única luz que resta da estrela que implodiu. A imagem mostra um vislumbre de como era o Universo quando tinha apenas 5% da sua idade actual. Fonte]deepspace

As explosões de raios gama são dos fenómenos que mais energia libertam no universo, correspondendo à explosão de uma estrela gigante no final da sua vida, que assim esgota o seu combustível e se extingue, dando lugar a um buraco negro ou a uma estrela de neutrões. (…)

Javier Gorosabel revelou, por seu turno, que a luz da estrela que se finou viajou pelo espaço desde um tempo em que ainda não existiam nem o Sol, nem a Terra.

Alberto Fernández Soto complementou que, com isto, se comprova que há 13 mil milhões de anos já existiam estrelas, algo que até agora não passava de uma hipótese, e se conclui que "a formação dos corpos celestes foi mais rápida do que se pensava". (…)

Para proceder a estas análises, os cientistas recorreram a dados obtidos por vários telescópios colocados em diversos pontos do mundo, entre os quais o da estação espanhola BOOTES-3, situado na Nova Zelândia, e o telescópio Nazionale Galileo, operado por italianos e localizado na ilha espanhola de La Palma. [Os astrónomos utilizaram um satélite da NASA chamado Swift para encontrar as explosões de raios gama. Veja o vídeo. Fonte]

26 de outubro de 2009

Listagem de posts úteis para alunos de 10º ano - 02

Mais uma listagem de artigos que publiquei no ano lectivo anterior e que podem ser úteis para alunos de 10º ano (e não só). Este ano lectivo já existem outros posts que abordam estes temas e claro que, apesar destas listas, pode fazer uma pesquisa pelos temas que lhe interessa aprofundar. Utilize as etiquetas ou a pesquisa na barra lateral do blogue.

Pode consultar a 1ª parte da listagem que publiquei aqui: Listagem de posts úteis para alunos de 10º ano – 01.

25 de outubro de 2009

O vírus de Schrödinger

Mais um artigo muito interessante de Anna Gerschenfeld, no Público.

É um gato? É um vírus? É uma experiência quântica!

800px-Schrodingers_cat.svgEm 1935, o físico austríaco Erwin Schrödinger imaginou uma experiência conceptual , protagonizada por um gato, para mostrar quão bizarra era a nova mecânica quântica, quando transposta para os objectos quotidianos. Agora, um grupo de cientistas diz que é possível fazer realmente a experiência - com um vírus.

A física quântica é uma verdadeira colecção de bizarrias que desafiam as nossas mais íntimas intuições. À escala dos átomos e das partículas subatómicas, tudo é diferente, tudo fica "desfocado", por assim dizer. Um electrão não é como uma bola de ténis, porque, segundo as leis da mecânica quântica, pode estar em vários sítios diferentes ao mesmo tempo - o que não acontece com a bola de ténis.

Uma pergunta que irrita e fascina há décadas muitos físicos é a seguinte: se é verdade (e ninguém duvida) que os objectos quotidianos são feitos de triliões de partículas quânticas, por que é que as leis da física quântica não se aplicam também a esses objectos? Por que é que não podemos, parafraseando a revista New Scientist, estar ao mesmo tempo no jardim a cortar a relva e no supermercado a fazer as compras? Ler mais aqui.

Um dos locais mais frios do Universo está na Terra

Texto retirado do AstroPT:

O LHC (Large Hadron Collider) acaba de atingir a temperatura de 1,9 Kelvin (cerca de -271ºC) em todos os seus 8 sectores! Esta temperatura é apenas ligeiramente superior ao zero absoluto (-273,15ºC) e é inferior à temperatura da radiação cósmica de fundo que banha todo o Universo (2,7 Kelvin).

Tem aqui um bom artigo sobre o tema e também pode ler no Átomo e meio mais artigos sobre o LHC.

Domingo com 25h. É de aproveitar.

Já deve ter reparado que os relógios atrasaram uma hora. Não se esqueça de confirmar os relógios espalhados pela casa porque amanhã já é dia de trabalho e não vão querer aparecer 1h antes do que é devido.

Pode ler aqui um artigo interessante sobre o tema e que relaciona história, economia, sociologia, ciência e política.

Achei engraçados estes cartoons alusivos ao tema.

clocks-change No Instituto de astrofísica espaço-temporal avançada, por vezes é das coisas simples que há dificuldade em lembrar. Na realidade os relógios avançam na Primavera e recuam no Outono. Fonte.

2007-11-03 Os primórdios do acerto da hora. Fonte.

daylightsvgs-timeAfinal o problema começou ainda há mais tempo. Diz o trabalhador em Stonehenge: “E no Outono temos que voltar a por tudo no lugar”. Fonte.

23 de outubro de 2009

Calendário dos testes intermédios 2009/2010

Estão disponíveis no GAVE informações relativas aos testes intermédios que terão lugar em 2009/2010 no 3º ciclo (Matemática e Língua Portuguesa) e secundário (Física e Química A, Biologia e Geologia, Matemática A e Matemática B). calendario-testes-intermedios

Para que os resultados sejam bons, a preparação tem que ser feita com muita antecedência.

Aqui está o PDF com as informações relativas à disciplina de Física e Química A.

19 de outubro de 2009

Observação astronómica no Observatório Astronómico de Lisboa (23 e 24 de Outubro)

Informação que recebi hoje do Observatório Astronómico de Lisboa:

Observatório Astronómico de Lisboa
Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Ano Internacional da Astronomia 2009 - E Agora Eu Sou Galileu

O OAL, no âmbito da iniciativa "E Agora Eu Sou Galileu" vai realizar várias observações ao longo do ano de 2009. Coincidentes com o projecto global "Noites de Galileu", as próximas observações serão dedicadas à participação nesta iniciativa do AIA 2009. Estas decorrerão nos dias 23 e 24 de Outubro e terão lugar no Edifício Central, entre as 21:00 e as 23:30.

Nesta sessão serão realizadas observações (acompanhadas por palestra) com telescópio do planeta Júpiter e das suas luas.

Serão ainda observadas estrelas, enxames e nebulosas da Via Láctea. Esta sessão visa a sensibilização sobre o impacto das observações de Galileu para a Astronomia e a Ciência em geral.

A observação será precedida de uma visita ao Observatório com início às 20:00.

Notas:

1- As visitas ao Observatório e as palestras realizar-se-ão mesmo no caso de as condições meteorológicas não permitirem a realização de observações.

2- É aconselhável o uso de roupa quente e confortável.

A entrada na Tapada da Ajuda faz-se pelo portão da Calçada da Tapada, em frente ao Instituto Superior de Agronomia.

Nova teoria para a extinção dos dinossauros

dinossaur_extintion_theory_teoria_extinção_dinossaurosParece-me que esta nova teoria que tenta explicar a extinção dos dinossauros tem pernas para andar.

11 de outubro de 2009

Vida e morte de uma estrela: as estrelas como fábricas de elementos químicos

Estes são mais dois vídeo que vieram do blogue do Carlos Portela: Vídeos para o Ensino da Física e da Química. Mais uma vez, o meu obrigado pelo excelente trabalho desenvolvido.

Vale mesmo a pena vê-los com atenção e claro que recomendo que os estudantes interessados o façam tirando notas. Podem sempre parar o vídeo e voltar atrás. Dificilmente se aprende tudo o que têm para ensinar numa primeira visualização. Aproveitem!

O primeiro veio daqui e dele retiro o seguinte texto.

Neste episódio da série Ask an Astronomer ("Pergunta a um Astrónomo"), Michelle Thaller (ver aqui as suas publicações no ScientificCommons) explica-nos o papel fundamental da força gravítica na vida de uma estrela. Dado o papel central que essa força desempenha na evolução estelar conclui-se que um dos factores determinantes dessa evolução é a massa da estrela, nomeadamente, se a estrela termina os seus dias como anã branca, estrela de neutrões ou buraco negro.

O segundo veio daqui e aproveito o seguinte texto escrito pelo Carlos Portela.

Durante a maior parte do tempo de vida de uma estrela, esta converte, fundamentalmente, os núcleos de hidrogénio-1 (protão) em núcleos de hélio-4.

Mas, em fases posteriores, as estrelas conseguem "fabricar", por fusão nuclear, elementos mais pesados. Nas gigantes vermelhas pelo menos até ao oxigénio e nas supergigantes vermelhas até ao ferro.

Mas é no ferro que termina o caminho usual da fusão nuclear. Então de onde é que vêm os elementos mais pesados do que o ferro? Os elementos mais pesados do que o ferro são produzidos nas supernovas: explosão tremendamente energética na fase final das estrelas "grandes" (de massa superior a oito massas solares).

Neste vídeo da série de ciência Origins da PBS Nova (Science Programming on Air and Online), Neil deGrasse Tyson conta-nos a história dos elementos. São também entrevistados os astrofísicos Robert Kirshner (Universidade de Havard) e Stan Woosley (Universidade da Califórnia, Santa Cruz).

Imagem com resumo de 50 anos de exploração espacial

No 11º ano estamos a iniciar o tema da Terra à Lua. Esta imagem leva-nos ainda mais longe e resume 50 anos de exploração espacial, com a trajectória de quase 200 missões realizadas. É um trabalho lindíssimo produzido por Sean McNaughton, da National Geographic e por Samuel Velasco da 5W Infographics. Fonte.

Repare nas trajectórias realizadas para alcançar os planetas mais distantes. Primeiro passam por Vénus e novamente pela Terra, de forma a acelerar usando a atracção gravitacional destes planetas.

A resolução original é demasiado elevada para ser colocada directamente aqui, mas se clicar na imagem (recomendo) pode abrir a versão em máxima resolução ou então guardá-la no seu computador.

50-years-exploration-huge (Small)

No 10º ano também estamos a rever alguns conceitos relacionados com o que conhecemos do Universo e das distâncias envolvidas. Assim sendo, esta imagem também permite tirar algumas conclusões, pois também permite visualizar as distâncias viajadas pelas diferentes sondas. Voyager1Para se ter uma ideia da  imensidão do cosmos, a Voyager 1 (foto à direita), que foi lançada em 1977, apesar de ser o objecto construído pelo homem que mais se afastou de nós e que mais rápido viaja (17,2 km/s ou 3,6 UA/ano), só agora, 32 anos depois, atingiu os 16 mil mihões de km. Parece muito, mas fazendo uma comparação, é o mesmo que os navegadores no tempo dos descobrimentos apenas terem explorado o porto de onde saíram.

Estive a realizar uns cálculos simples (proponho que os leitores também os façam) e facilmente se conclui que, mantendo a rapidez actual, se estivesse dirigida para a Próxima de Centauro, a estrela mais próxima (a cerca de 4 anos luz) ,apenas lá chegaria daqui a cerca de 70 000 anos!!!

Temos mesmo que descobrir métodos mais rápidos de transporte.

GPN-2000-001976 (Small) Aproveito para fazer referência ao disco que as duas Voyager transportam e que fornece indicações da nossa localização e da nossa história (Lista dos conteúdos). Servirão para um eventual encontro com uma civilização extraterrestre, ou com futuros humanos. São as nossas embaixadoras e servem como uma cápsula do tempo.

9 de outubro de 2009

Estudo do movimento - 01

A descrição do movimento de um corpo faz-se indicando a sua localização em cada instante, sendo necessário medir o tempo e posições em relação a um ponto de referência. Para simplificar o problema e eliminar efeitos pouco relevantes para o que pretendemos descrever, o corpo pode ser representado por um ponto. [Sequências 1 e 2 na animação abaixo]

À medida que o corpo se move descreve uma trajectória. Na nossa descrição, o que pretendemos é indicar onde ele se encontra a cada momento. Assim a trajectória corresponde a uma função matemática que nos fornece para cada instante de tempo a posição do corpo. Em geral uma trajectória corresponde a uma sequência de conjuntos de quatro números (x, y, z, t). Cada um desses conjuntos inclui o instante de observação t e as três coordenadas x, y, z, da posição do objecto nesse instante. [Sequências 1 a 4 na animação abaixo]

Para evitar incompreensões desnecessárias é necessário saber distinguir claramente os conceitos de distância percorrida e de deslocamento. A próxima animação ajuda à clarificação.

[Sequência 1 na animação abaixo] Para indicar que a posição do corpo a cada instante é relativa ao ponto de referência O, costuma-se representá-la por um vector de posição , em que as componentes do vector são as coordenadas do objecto. A trajectória do corpo pode então ser representada por uma função r(t) que para cada instante t fornece o vector de posição.

[Sequência 2 na animação abaixo] A velocidade média corresponde ao vector           Equação_1

A velocidade é, portanto, uma grandeza vectorial, ou seja, tem uma direcção e um sentido associados. Para descrever o movimento do corpo temos de indicar o seu módulo, a direcção e sentido do movimento.

[Sequência 3 na animação abaixo] A velocidade instantânea no instante t corresponde ao vector (tangente à trajectória) quando t2 e t1 são instantes de tempo infinitamente próximos [Sequência 4 na animação abaixo]: Equação_2     (esta expressão pode agora parecer complicada para muitos, mas quando terminarem a Matemática de 11º verão que é fácil)

Quando o corpo se deslocar segundo uma linha recta, tudo se simplifica pois basta-nos uma medição para saber onde ele se encontra. Trata-se de um movimento rectilíneo. Neste caso a posição, definida por uma única grandeza x, é uma função do tempo: x(t).

Para um movimento rectilíneo o módulo v da velocidade define-se por     Equação. Note-se que a alteração de sentido do movimento se traduz numa alteração de sinal da velocidade.

Ao longo da sua trajectória o corpo pode deslocar-se mais ou menos depressa. Quer isto dizer que distâncias equivalentes podem ser percorridas em menos ou mais tempo.

[Sequência 1 na animação abaixo] Tal como no caso da posição, também a velocidade é uma função do tempo. Para o movimento rectilíneo, a direcção não muda, mas pode mudar o sentido ou o módulo. O exemplo de movimento mais simples corresponde ao caso em que a velocidade do corpo é constante. Constante significa aqui que a velocidade não se altera em módulo, direcção ou sentido, ou seja, que o movimento é rectilíneo. Designa-se por isso de rectilíneo uniforme.

[Sequência 2 na animação abaixo] Quando a velocidade não é constante o movimento torna-se mais complexo. O caso mais simples que podemos encontrar nessas condições ocorre quando temos um movimento rectilíneo em que a velocidade se altera de forma constante e designa-se por uniformemente variado (se o módulo da velocidade aumentar é acelerado e se diminuir é retardado).

Essa taxa de variação designa-se por aceleração e é, tal como a velocidade, uma grandeza vectorial, isto é, tem uma direcção e sentido (a direcção e sentido da alteração da velocidade) e um módulo. Matematicamente o módulo a da aceleração define-se então por  Equação. Note-se que o aumento ou diminuição da velocidade se traduz numa alteração de sinal da aceleração (positivo para um aumento de velocidade e negativo para uma diminuição).

O conteúdo deste post foi adaptado de [1] e [2].

Brevemente seguir-se-ão outros artigos dando continuidade ao tema.

8 de outubro de 2009

As fábricas dos ingredientes da vida foram reveladas até ao último átomo

No artigo que dá o título a este post, Ana Gerschenfeld produziu um bom artigo sobre as descobertas por detrás do prémio Nobel da Química de 2009. Ao contrário de muitos dos artigos sobre ciência que se encontram nos jornais generalistas, este está muito cuidado. Cito-o na íntegra.

Dentro de cada uma das células do nosso corpo, bem aconchegada dentro do núcleo, reside uma compridíssima molécula de ADN. Mas o ADN é apenas um livro de instruções genéticas, uma espécie de roteiro para fabricar um ser humano. Trata-se de uma molécula passiva, que só por si não é vida. A matéria de base da vida são as proteínas — a hemoglobina, que transporta o oxigénio no nosso sangue, os anticorpos que nos protegem das doenças, a queratina do nosso cabelo e das unhas, o colagénio da nossa pele e mais umas dezenas de milhares de moléculas desse tipo. E todas essas proteínas são fabricadas pelas células, a partir das instruções do ADN, numas estruturas muito complexas: os ribossomas. Cada ribossoma mede cerca de 25 milionésimos de milímetro e cada célula contém dezenas de milhares de ribossomas.

“A tradução da informação do ADN é um dos processos mais primordiais da produção da vida. (...) Os ribossomas produzem proteínas que, por sua vez, controlam a química de todos os organismos vivos”, declarou o comité Nobel, ao explicar a decisão de atribuir este ano o Prémio Nobel da Química a três cientistas “que conseguiram cartografar a posição de cada um das centenas de milhares de átomos dos ribossomas.”

Eles são Ada Yonath, do Instituto Weizman de Ciência em Revohot, nascida em Israel em 1939; Thomas Steitz, norte-americano da Universidade de Yale, nascido em 1940; e Venkatraman Ramakrishnan, do Medical Research Council britânico, norte-americano nascido na Índia em 1952. Todos tiveram um papel essencial nesta aventura científica, que durou duas décadas.

A trilogia de Darwin

Quando Darwin postulou a sua teoria da evolução, em meados do século XIX, não se sabia quais eram os mecanismos bioquímicos responsáveis pela transmissão dos traços físicos de um organismo à sua descendência.

Em 1962, o primeiro Nobel daquilo a que o comité Nobel chamou ontem “a trilogia de Darwin”, premiou James Watson, Francis Crick e Maurice Willkins pela descoberta da estrutura molecular tridimensional do ADN. Em 2006, outro Nobel recompensou a descoberta de como a informação do ADN do núcleo é copiada para outro tipo de material genético, o ARN mensageiro, encarregado de transportá-la para os ribossomas, situados no citoplasma da célula, onde serão fabricadas as proteínas correspondentes. E agora, o prémio de 2009 recompensa a cartografia atómica dos próprios ribossomas — o mais recente dos avanços que, ao longo dos últimos 45 anos, mostraram “como as teorias de Darwin funcionam efectivamente à escala do átomo”.

O último episódio da saga começou nos anos 1970, quando Ada Yonath decidiu tentar “fotografar” um ribossoma graças à cristalografia por raios X. Este método consiste em determinar a estrutura atómica de um cristal iluminando-o com um feixe de raios X para obter uma imagem fotográfica (hoje, uma imagem digital) que informe sobre a disposição dos seus átomos.

O empreendimento exigia que se obtivesse um cristal quase perfeito de ribossoma, o que era considerado impossível. Isso não desalentou Yonah, que escolheu tentar a sorte com os ribossomas de bactérias capazes de sobreviver em condições extremas (uma conseguia resistir à salinidade do Mar Morto). A ideia era que esses ribossomas seriam mais estáveis e, portanto, mais facilmente cristalizáveis. “Em 1980, [ela] conseguiu fabricar os primeiros cristais tridimensionais [de uma parte] do ribossoma”, explica um documento do comité Nobel. (...) “Mas seriam precisos mais 20 anos de árduo trabalho para Yonah conseguir uma imagem do ribossoma onde fosse possível determinar a posição de cada átomo.”

Corrector ortográfico

Entretanto, outros cientistas tinham ficado entusiasmados com os resultados — entre eles, Thomas Steitz e Venkatraman Ramakrishnan.

O primeiro conseguiria resolver um problema técnico inerente à cristalografia de raios X, quando se trata de visualizar estruturas tão extensas como os ribossomas. E, em 1998, publicava a primeira imagem de uma das subunidades do ribossoma (a maior das duas que o compõem). “Parecia uma foto de má qualidade”, diz o comité Nobel. “Não era possível ver os átomos, mas distinguia-se as longas moléculas de ARN” (os ribossomas são compostos de ARN e de proteínas). Steitz conseguiria também “apanhar” diversos momentos da formação das proteínas, uma reacção química extremamente rápida.

Finalmente, em 2000, os três laureados publicavam imagens de cristalografia que permitiam determinar a posição de cada átomo dos ribossomas.

Os resultados de Ramakrishnan, que analisou a pequena subunidade dos ribossomas, foram cruciais para se perceber como é que conseguem traduzir os genes em proteínas sem quase nunca cometer erros. Existe um mecanismo, a cargo dessa subunidade, que verifica duas vezes se a “leitura” do ARN mensageiro está correcta — e que descarta os aminoácidos que não correspondem à sequência de ARN que está a ser traduzida.

Afinal, o que faz o ribossoma? Quando o ARN mensageiro desfila entre as suas duas subunidades, o ribossoma “lê” o código genético ali contido (cada combinação de três das quatro “letras”, ou bases, do ARN, representa um dos 20 aminoácidos que compõem as proteínas). Vai juntando esses aminoácidos e liga-os quimicamente, para obter a proteína correspondente (nesta assemblagem participa ainda um outro tipo de ARN, o ARNt — ver infografia). Conclui o comité Nobel: “Os laureados permitiram perceber ao nível atómico como a natureza consegue transformar algo tão simples como um código de quatro letras em algo tão complexo como a própria vida”.

Para ilustrar este artigo, o seguinte vídeo (encontrado aqui) mostra de forma espantosa os mecanismos envolvidos na tradução da informação codificada no ADN na sequência de aminoácidos que constitui as proteínas. Intitula-se The Ribosome in Protein Synthesis e foi produzido em 2004 por Said Sannuga do Laboratório de Biologia Molecular do Medical Research Counsil.

É importante não esquecer que o ribossoma que surge no vídeo mede cerca de 25 milionésimos de milímetro. Acho este vídeo espantoso.

7 de outubro de 2009

Prémio Nobel da Química de 2009

PremioNobelQuimica2009

O prémio Nobel da Química foi hoje atribuído aos norte-americanos Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz e à israelita Ada Yonath por trabalhos sobre "a estrutura e a função do ribossoma", que fabrica as proteínas.

A importância do ribossoma, segundo a Real Academia Sueca, está em "traduzir a informação do ADN em vida", sendo por essa razão um alvo importante para novos antibióticos.

Os ribossomas produzem proteínas, que por sua vez controlam a química de todos os organismos vivos.

Segundo a citação do prémio, os três cientistas hoje distinguidos "mostraram o que são os ribossomas e como funcionam ao nível dos átomos".

Venkatraman Ramakrishnan, Thomas Steitz e Ada Yonath usaram um método chamado cristalografia de raios-X para mapear a posição de cada um das centenas de milhares de átomos que constituem um ribossoma.

Os três geraram modelos a três dimensões que mostram como diferentes antibióticos se ligam ao ribossoma e que são agora usados pelos cientistas para desenvolver novos antibióticos, contribuindo directamente para salvar vidas e diminuir o sofrimento da humanidade.

A compreensão do funcionamento interno dos ribossomas tem por isso uma aplicação prática imediata em muitos dos antibióticos actuais, que bloqueiam o funcionamento de ribossomas de bactérias, curando assim várias doenças.

dbio-1As moléculas de ADN existentes em todas as células de todos os organismos contêm as informações básicas sobre como são e funcionam um ser humano, uma planta ou uma bactéria. Todavia, se não existisse algo mais, não haveria vida.

Segundo a citação do prémio, "é o trabalho dos ribossomas que transforma esses códigos em matéria viva, produzindo proteínas a partir da informação contida no ADN". [Clique na imagem para aumentar. Fonte]

Entre essas proteínas contam-se a hemoglobina, que transporta o oxigénio no sangue, os anticorpos do sistema imunitário, as hormonas como a insulina, o colagénio da pele ou as enzimas que decompõem o açúcar.

"Há dezenas de milhares de proteínas no corpo e todas elas têm formas e funções diferentes, construindo e controlando a vida a nível químico", refere o comunicado da Real Academia Sueca. Notícia completa aqui.

 

Como curiosidade, enquanto procurava uma imagem da estrutura de um ribossoma para ilustrar este post, encontrei aqui o seguinte texto:

7 In 2001, several research groups were able to get structures of a ribosome—a very complex nucleic acid structure and an enormous protein-RNA complex that is responsible for synthesizing proteins. Many scientists believed that getting an atomic-level image of a ribosome would be impossible because its structure is so complicated. (Ribosomes contain more than 50 proteins and thousands of RNA nucleotides.) Some scientists think these images—which were produced by Harry Noller at the University of California Santa Cruz, Venki Ramakrishnan at the University of Cambridge, England, and Thomas Steitz at Yale University—may be worthy of a Nobel Prize.

Estavam certos!

Prémio Nobel da Física de 2009

Nobel-2009-Physics-Fisica

Foi uma descoberta relacionada com a fibra óptica, esse material que hoje forma o sistema circulatório que faz correr a informação à volta do mundo, que valeram a Charles Kao, da Universidade de Hong Kong, metade do Nobel da Física deste ano. William Boyle e George Smith repartem a outra metade, por terem inventado a primeira tecnologia de imagem que utiliza um sensor digital (CCD), que hoje se tornou o olho electrónico usado em quase todas as áreas da fotografia.

Com uma fibra do mais puro vidro, é possível transmitir sinais de luz à distância de 100 quilómetros – nos anos 1960, quando Kao (76 anos) fez as suas descobertas, apenas era possível transmitir informação por fibras ópticas à distância de 20 metros.(…)

A tecnologia CCD usa um efeito fotoeléctrico, teorizado por Albert Einstein, que valeu ao famoso físico o Nobel de 1921. Através deste efeito, a luz é transformada em sinais eléctricos. O desafio a que se propuseram Boyle e Smith, ao conceber um sensor de imagem, foi torná-lo capaz de captar e ler sinais numa enorme quantidade de pontos de imagem (pixels), muito rapidamente.

O CCD tornou-se o olho electrónico das câmaras digitais e revolucionou a fotografia: a luz passava a poder ser capturada electronicamente, em vez de numa película. E, claro, se já está sob formato digital, fica facilitada a distribuição dessas imagens, por fibra óptica ou outros canais. Notícia completa aqui. Também pode lê-la aqui.

Leia também as declarações sobre o tema da directora do Centro de Investigação de Materiais da Universidade Nova de Lisboa, Elvira Fortunato.

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